Pesquisar aqui

quinta-feira, 28 de abril de 2011

ARTE E COMUNICAÇÃO: QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS

Fonte: http://www.megamonalisa.com 
Depois dessa longa revisão, nossos estudos passam a se concentrar, agora, nas relações entre o campo da Arte e o campo da Comunicação. A ideia é discutir alguns pontos fundamentais para o campo da Estética, a partir da emergência do que Adorno e Horkheimer chamaram de indústria cultural.


Como ponto de partida, vamos retomar justamente as reflexões de alguns dos teóricos da Escola de Frankfurt, especialmente Adorno & Horkheimer e Benjamin. Trata-se de dois posicionamentos distintos em relação aos fenômenos decorrentes dos processos de modernização tecnológica pós-Revolução Industrial.

Esses autores examinam os mesmos fenômenos, mas suas abordagens resultam em avaliações diferentes. Se, para Adorno & Horkheimer, a indústria cultural conferia a tudo "um ar de semelhança", já que a cultura havia entrado no esquema da produção em série, Benjamin anotou que a reprodução técnica podia colocar a cópia de uma obra de arte em situações antes impossíveis ao original, retirando-a do domínio da tradição e aproximando-a, portanto, dos indivíduos - como faziam a fotografia e o disco, por exemplo.


Toda a cultura de massas em sistema de economia concentrada é idêntica, e o seu esqueleto, a armadura conceitual daquela, começa a delinear se. Os dirigentes não estão mais tão interessados em escondê la; a sua autoridade se reforça quanto mais brutalmente é reconhecida. O cinema e o rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade de que nada são além de negócios lhes serve de ideologia. Esta deverá legitimar o lixo que produzem de propósito. O cinema e o rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos. (ADORNO; HORKHEIMER)
A reprodução técnica pode colocar a cópia do original em situações impossíveis ao próprio original – pode aproximar a obra (antes afastada) dos indivíduos, seja sob a forma da fotografia, seja do disco. A catedral abandona seu lugar para instalar-se no estúdio de um amador; o coro, executado numa sala ou ao ar livre, pode ser ouvido num quarto. (BENJAMIN)

Clique aqui para baixar os slides da aula.

sábado, 9 de abril de 2011

A ESTÉTICA E A INDÚSTRIA CULTURAL

O texto A Indústria Cultural, de Adorno e Horkheimer, foi escrito em 1947 - logo após o fim da 2ª Guerra Mundial, portanto. Trata-se de uma análise crítica sobre a lógica cultural do sistema capitalista (que eles vão chamar de "indústria cultural") e da sociedade de mercado.

Os autores fazem parte do que se convencionou chamar de Escola de Frankfurt, da qual fizeram parte estudiosos de tendências marxistas que se encontram no final dos anos 1920. A Escola está associada à chamada Teoria Crítica da Sociedade. 

Conceitos de grande circulação nos estudos de Estética da Comunicação de Massa (como a expressão "cultura de massa" e a própria idéia de "indústria cultural") são tributárias desses estudiosos.

Entre os autores mais conhecidos entre nós, além de Adorno e Horkheimer, estão:

Walter Benjamin: autor do famoso A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, que dispensa apresentações, sobretudo porque já estudamos esse texto no semestre passado, em Teorias da Comunicação.

Herbert Marcuse: autor de A ideologia da sociedade industrial (1964), obra que denuncia aspectos totalitários dos dois regimes que, à época, confrontavam-se na Guerra Fria - o comunismo soviético e o capitalismo norte-americano.

Erich Fromm: cujas obras mais famosas talvez sejam a trilogia O medo à liberdade, Análise do homem e Psicanálise da sociedade contemporânea. Fromm é também autor de Ter ou ser?, obra em que analisa aspectos do comportamento de consumo.

Habermas: autor de O Discurso Filosófico da Modernidade, é herdeiro das discussões de Frankfurt. Foi colaborador de Adorno, entre 1956 e 59, no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt.

Para os que tiverem maiores interesses no assunto, recomendo:

HORKHEIMER, Max, ADORNO, Theodor. Dialética do Esclarecimento. Trad. Guido de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

JAMESON, Friedric. O Marxismo Tardio - Adorno, ou a persistência da dialética. Trad. Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Boitempo, 1997.

WIGGERSHAUS, Rolf. Escola de Frankfurt - História, desenvolvimento teórico, significação política. Trad. Vera de A. Harvey. Rio de Janeiro: Difeel, 2002.

A ESTÉTICA E O ESTATUTO DA ARTE NO SÉCULO XX

- As últimas décadas do século 19 trouxeram rupturas fundamentais que alteraram radicalmente a História da Arte. No campo da produção artística, uma das principais marcas foi o questionamento dos modelos valorizados pela academia, desde o Renascimento.

- As mudanças nos planos socioeconômico e político, a filosofia moderna e as inquietações de artistas e personalidades envolvidas no campo da arte contribuíram para o que depois ficou conhecido como as Vanguardas Européias – movimentos que abriram o séc. 20, trazendo a marca desses questionamentos do final do século anterior.

- As gerações anteriores (impressionistas, pós-impressionistas e realistas) deixaram, para o séc. 20, a herança da vontade de transformação artística, embrião da arte moderna.

- São considerados particularmente decisivos nomes como:
  • Paul Cézanne (1839-1906), que pregava uma obsessiva objetividade no modo de perceber o mundo. 
  • Georges Seraut (1859 -1891), que desenvolveu uma percepção científica de sua época, incorporando, às suas obras, estudos de ótica e cor. Além disso, é considerado um estudioso da arte, em função de suas pesquisas e descobertas estéticas. 
  • Van Gogh (1853-1890), que hoje é considerado um pioneiro na associação das tendências impressionistas com as principais aspirações modernistas. Sua obra é profundamente marcada por seu próprio estado psico-emocional, o que o fez alternar técnicas e estilos ao longo de sua vida artística.
AS VANGUARDAS EUROPÉIAS

O termo “vanguarda” vem do francês Avant Garde (guarda avante), referindo-se ao batalhão militar que antecede as tropas em ataque. No campo da arte, vanguarda é aquilo que “está à frente”.

Trata-se de uma série de movimentos artísticos e políticos da transição do séc. 19 para o séc. 20. Esses movimentos se consideravam guias para a cultura de seu tempo, colocando-se sempre à frente. Algumas vanguardas chegaram a assumir um caráter político partidário, desenvolvendo a militância, lançando manifestos e alimentando a crença de que portavam “a verdade”.

A expressão passou a circular na década de 1860, n’O Salão dos Recusados (Salon des Refusés), espaço onde expunham os artistas excluídos do Salão de Paris.

Muitos artistas vanguardistas ainda estavam ligados ao movimento realista. Este simpatizava com a promoção do progresso social, considerando os sujeitos ou grupos como responsáveis pelas reformas sociais.

Os artistas também se preocupavam com a experimentação estética (mais associada à forma de expressão).

As vanguardas costumam ser classificadas como positivas e negativas, ainda que movimentos como o expressionismo não se encaixem nessa divisão.
  • Vanguardas positivas: Cubismo, Construtivismo, Neoplasticismo, Suprematismo, Abstracionismo e Concretismo - movimentos artísticos que pregavam a adequação da arte ao novo tipo de sociedade do século 20, em reação ao idealismo romântico. Trata-se de movimentos objetivistas (próximos ao positivismo). 
  • Vanguardas negativas: Surrealismo, Dadaísmo e Futurismo - movimentos artísticos que pregavam a separação entre a arte e a sociedade. Defendiam a indiferença da arte em relação a qualquer elemento exterior a ela própria. Buscavam qualidade técnica e conceitual extremas, sem maiores preocupações com o sentido da mensagem.
No Brasil, grupos como o Pau-Brasil e o Movimento Antropófago (ambos idealizados por Oswald de Andrade) se definiam como vanguardistas. O que veio a se constituir no Modernismo brasileiro recebeu muitas influências das vanguardas européias, o que fica evidente nas apresentações da Semana de Arte Moderna (São Paulo, 1922).

Clique aqui para acessar os slides da aula.

Clique aqui para ler trechos do livro Vanguarda Européia e Modernismo Brasileiro (Gilberto mendonça Teles)

Clique aqui para ler o Manifesto Pau-Brasil

Clique aqui para ler o Manifesto Antropófago

CONT. A ESTÉTICA NA MODERNIDADE

O GRANDE DIVISOR

Em Memórias do Modernismo o teórico Andréas Huyssen assinala um traço marcante da modernidade – o grade divisor (great divide ou great divisor). Trata-se de um discurso 
“que insiste na distinção categórica entre alta arte e cultura de massa. […] A crença no Grande Divisor, com suas implicações estéticas, morais e políticas, predominou na academia até os anos 80 (veja-se, por exemplo, a quase total separação institucional entre os estudos literários, incluindo a nova teoria literária, e a pesquisa sobre cultura de massa, ou a insistência, muito difundida, em excluir questões éticas ou políticas do discurso da literatura e da arte). Mas ela foi sendo cada vez mais posta em xeque pelos recentes desenvolvimentos das artes, do cinema, da literatura, da ar­quitetura e da crítica” (HUYSSEN, 1997, p.11-12).
- Segundo Huyssen, a insistência por parte de pensamentos como o de Adorno, na divisão entre a alta cultura e a cultura popular, tinha grandes motivos:
“O impulso político por trás de seus trabalhos era o de salvar a dignidade e a autonomia da obra de arte das pressões totalitárias dos espetáculos de massa fascistas, do realismo socialista e de uma degradação cada vez maior da cultura de massa comercial no Ocidente”. (1997, p.11).
- Referindo-se a um pensamento desenvolvido a partir de meados do séc. XIX, Huyssen assinala que o pensamento estético modernista teve como traço marcante um discurso agressivo contra a cultura de massa, assim como um distanciamento de questões referentes à cultura cotidiana e a aspectos relativos à política: defendia-se, então, a autonomia da arte burguesa.

- É preciso chamar a atenção para o fato de que, nesse mesmo período, as chamadas vanguardas históricas apresentaram uma espécie de alternativa às distinções entre alta (arte) e baixa (cultura): a reintegração arte/vida.

- Por essa razão, Huyssen sugere que as vanguardas históricas devam ser concebidas de modo distinto do pensamento estético modernismo e da dicotomia alto/baixo.

REFERÊNCIA
HUYSSEN, Andreas. Memórias do modernismo. Trad. Patrícia Farias. Rio de Janeiro: Ed.UFRJ, 1997.

A ESTÉTICA NA MODERNIDADE - KANT e HEGEL

Considerações iniciais:

A estética ganhou autonomia como ciência, destacando-se da metafísica, da lógica e da ética, com a publicação da obra Aesthetica do educador e filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (dois volumes, 1750-1758).

Baumgarten apresenta novas propostas para o estudo da obra de arte:
  • Ao adicionar elementos próprios da esfera do sentimento à realidade percebida, os artistas alteram voluntariamente a Natureza.
  • A própria atividade artística será considerada o espelho do processo criativo.
I) PENSADORES E REFLEXÕES:
IMMANUEL KANT (1724-1804): “Experiência é percepção compreendida”.
- O pensamento de Immanuel Kant contribuiu para epistemologia (1), a partir da síntese que propôs entre o Racionalismo (predomínio do raciocínio dedutivo - Descartes e Leibniz), e o empirismo inglês (valorização do raciocínio indutivo - David Hume, George Berkeley e John Locke.
- Em Crítica da faculdade do juízo, se encontram as principais reflexões kantianas sobre a estética.
Filosofia da natureza e da natureza humana (concepção subjetiva):

“Não pode haver nenhuma regra de gosto objetiva, que determine por meio de conceitos o que seja belo. Pois todo juízo proveniente desta fonte é estético; isto é, o sentimento do sujeito e não o conceito de um objeto é o seu fundamento determinante. Procurar um princípio de gosto, que fornecesse o critério universal do belo através de conceitos determinados, é um esforço infrutífero, porque o que é procurado é impossível e em si mesmo contraditório” (Crítica da Faculdade do Juízo, I, 17).
A obra apresenta alguns elementos decisivos para a compreensão contemporânea do estético:
  • Abertura ao belo como familiaridade e pertença, assim como ao sublime como estranho e incontrolável, aquilo que em grande parte corresponde ao conceito freudiano de unheimlich (2).
  • A abertura à representatibilidade do sem-forma, quer através do simbólico, quer pela persistência no elemento da ausência de forma.
  • A abertura ao artefactual e ao ficcional como materiais preponderantes de uma estética que em grande parte abandona o desejo de mimesis para explorar os domínios do acontecimento sem referência objetivante.
- Concepção transcendental: todo ser humano traz formas de pensamento a priori para a experiência concreta da vida (seriam conceitos prévios, que não se a cumulam com a experiência).
Segundo a doutrina kantiana (idealismo transcendental), os fenômenos da realidade objetiva não se mostram aos homens exatamente como são - ou seja, não aparecem como coisas-em-si, mas como representações subjetivas, construías pela faculdade humana.
- Relativismo conceitual: a filosofia katiana é considerada uma das fontes determinantes do relativismo conceitual que iria predominar no século XX (Mas nada tem a ver com as teorias relativistas do da pós-modernidade).
- Sobre o Juízo estético: para uma investigação crítica sobre o belo, o pensamento deve se orientar pelo poder de julgar. Esse julgamento deve ser impulsionado por uma questão:
Há algum valor universal que conceitue o belo e que determine que outras pessoas compartilhem da minha apreciação de uma forma bela da natureza ou da arte ou todo julgamento sobre o belo é uma valoração subjetiva?
O poder de julgar pertence a todos os sujeitos, ele é universal e congraça o julgamento estético, especulativo e prático. As reflexões críticas de Kant se relacionam com as possibilidades e limitações das faculdades subjetivas que agem sob princípios formulados e que pertencem à essência do pensamento.
- A universalidade do juízo estético: se apresentarmos uma obra de arte a várias pessoas, podemos observar que as impressões causadas serão diferentes. Concluiremos que a observação atenta e valorativa daquela obra, juntamente com as diferentes opiniões que apresentadas pelas pessoas, nos permite afirmar que o gosto pode ser discutido.
Kant vai afirmar que só é possível discutir sobre gosto.
  • A universalidade do juízo estético envolve um exercício persuasivo em relação aos outros sujeitos. É assim que um juízo estético subjetivo se torna um valor universal. Como os sujeitos compartilham princípios de avaliação moral livre, que determinam a avaliação estética, eles julgam o belo como universal.
  • O juízo estético se relaciona com o prazer (ou desprazer) que a obra nos proporciona. Para Kant, o belo “é o que agrada universalmente, sem relação com qualquer conceito”. Assim, não existe uma definição exata sobre o belo, mas um sentimento que é universal e necessário.
HEGEL (1770-1831): “O mais alto objetivo da Arte é o que é comum à Religião e à Filosofia. Tal como estas, é um modo de expressão do divino, das necessidades e exigências mais elevadas do espírito”.- Para Hegel, a arte é a manifestação sensível da idéia.
“A atitude artística se distingue da atitude prática do desejo no sentido de que a arte deixa subsistir seu objeto em liberdade total, enquanto o desejo emprega seu objeto para seu próprio uso, destruindo-o”.
- Em Cursos de Estética (ou simplesmente Estética), estão as principais considerações de Hegel sobre as questões relativas à criação artística. É considerada a primeira obra que combina a reflexão filosófica com uma história da arte.
- Hegel defende o belo artístico como o único com interesse estético. O belo artístico seria um produto do espírito, por isso só pode ser encontrado nos seres humanos e nas obras produzidas por eles.
- A idéia do bem, da verdade e do belo se completam, porque só há uma Idéia . Tudo o que existe contém a Idéia. A estética ocupa-se em primeiro lugar da Idéia do belo artístico como ideal.
- O belo, que do objeto aparece no sujeito, é “em si mesmo infinito e livre”.-
-Hegel defende uma visão idealista do belo.
- Para ele, cada uma das formas artes tem um lugar próprio na história do espírito e cumpre uma etapa no processo do autoconhecimento humano, mediante seu modo de configuração relacionado a uma determinada matéria.
- Na arte o espírito tem intuição, em um objeto sensível, da sua essência absoluta. Assim, o belo é a idéia concretizada sensivelmente. Portanto, no momento estético, o infinito é visto como finito.
Clique aqui para acessar o texto Méritos e falhas da Estética hegeliana, de Kathrin H. Rosenfield.
NOTAS
(1) Teoria do conhecimento ou Filosofia do conhecimento, a epistemologia é o ramo da filosofia que aborda as questões relacionadas ao conhecimento e às crenças, a partir da compreensão da origem, da estrutura, dos métodos e da validade do conhecimento.
(2) Referência ao texto "Das Unheimliche", publicado por Freud em 1919, traduzido aqui como "O estranhamente familiar" ou "O estranho familiar": "Chama-se unheimlich tudo o que deveria permanecer secreto, escondido, e se manifesta" (clique aqui para ler sobre esse texto).