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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O BELO E A ARTE NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA - PLATÃO E ARISTÓTELES

Segundo os historiadores da arte, os gregos são os responsáveis por um conceito de arte que tem circulado ao longo da história. A palavra grega que designa o que hoje chamamos de arte é tekné, que significa "técnica" ou "ofício".

Mas há também, no Latim, o termo ars, que significa igualmente técnica ou habilidade. A acepção do termo está associada às atividades humanas ligadas a manifestações de ordem estética, desenvolvidas a partir da percepção, das emoções e das ideias.

Na Grécia Antiga, o conceito estava associado à ideia de mimesis (no mundo real, a manifestação artística deve, para Platão, representar a busca do Ideal – que, uma vez associado à perfeição da natureza, espera da arte a perfeição.

Assim, pelo ponto de vista clássico, a arte é imitação (da natureza ou das ações), e implica a busca de uma natureza ideal e universal.

O pensamento clássico não distingue arte, ciência, matemática ou filosofia. O conhecimento humano interessa-se pela busca da perfeição.


"Pasifae e o Minotauro" - aprox. 330 a.C.
Pintura no interior de um cílice - vaso usado para beber vinho


Trabalho feito em pintura vermelha, técnica de cerâmica grega que consistia em pintar o fundo da peça em preto e deixar a figura principal na cor natural do barro. Depois do cozimento, a figura assumia a cor avermelhada.
No pensamento grego, a obra de arte se constituía por uma unidade entre “o belo”, “o bom” e “o verdadeiro”. A essência do belo seria alcançada a partir da sua identificação com o bom e com os valores morais instituídos.
Marilena Chauí registra que a Antiguidade (a partir da Filosofia) concebia as artes sob a forma da poética - diferentemente do pensamento moderno (a partir do séc. XVIII), que a considera sob a forma da estética.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

INTRODUÇÃO À ESTÉTICA

I) DEFINIÇÕES

Etimologia: a palavra Estética vem do grego αισθητική (aesthésis) e significa perceber, sentir.

O Dicionário Houaiss registra 4 acepções gerais para o termo "estética":
1 Rubrica: filosofia - parte da filosofia voltada para a reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico.
1.1 Rubrica: filosofia - segundo o criador do termo, o filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762), ciência das faculdades sensitivas humanas, investigadas em sua função cognitiva particular, cuja perfeição consiste na captação da beleza e das formas artísticas.
1.2 Rubrica: filosofia - no kantismo, estudo dos juízos por meio dos quais os seres humanos afirmam que determinado objeto artístico ou natural desperta universalmente um sentimento de beleza ou sublimidade.
1.3 Rubrica: filosofia - no hegelianismo, estudo da beleza artística, que apresenta em imagens sensoriais, ou representações sensíveis, a verdade do espírito, do princípio divino, ou da idéia.
2 Harmonia das formas e/ou das cores; beleza
Ex.: a estética de uma escultura de Giacometti

3 Ramo ou atividade profissional que tem por fim corrigir problemas cutâneos, capilares etc., assim como conservar ou dar mais viço à beleza física de uma pessoa, por meio de tratamentos especiais (p.ex., limpeza de pele, emagrecimento etc.)
Ex.: clínica de estética.
4 Uso: informal
aparência física; plástica
Ex.: dispensa muitos cuidados à sua estética.
  • Podemos acrescentar ainda outra acepção ao termo – a palavra estética é ainda utilizada em referência às tendências artísticas e/ou comportamentais de uma época.
Para Marilena Chauí, o termo estética comporta 4 acepções:
  • Estudo das formas de arte, do trabalho artístico;
  • Idéia de obra de arte e de criação;
  • Relação entre matéria e forma nas artes;
  • Relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética. (p.410)
Para Umberto Eco, a estética é uma disciplina “capaz de criar métodos e instrumentos de investigação próprios, mas não é uma ciência exata” (p.56).

Para Pareyson, “a estética tem, com a crítica e a história da arte, relações análogas àquelas que tem com a própria arte, no sentido de que, referindo-se à experiência estética para explicá-la filosoficamente e dela tirar estímulo e comprovação, encontra nela tanto a prática da arte quanto o exercício da leitura, da crítica e da história que dela se fazem” (p. 12-13).

  • Segundo registra a história, foi Platão (428-347 a.C.) quem formulou os primeiros questionamentos sobre a natureza do belo.
  • Mas foi Aristóteles (384-322 a.C.) quem primeiro sistematizou uma reflexão sobre a arte, em sua obra Arte Poética (ou A Poética).
II) SITUAÇÃO DISCIPLINAR:

Ramo da filosofia que estuda a natureza os fundamentos da arte, em especial a natureza do belo. Costuma-se assinalar a publicação de Aesthetica (1750), de Alexander Gottlieb Baumgarten, como marco da autonomia da Estética como disciplina. Foi Baumgarten quem ministrou o primeiro curso de estética de que se tem notícia, em 1742 na universidade de Halle. Ele usou pela primeira vez o termo estética, para designar a ciência que trata do conhecimento sensorial que chega à apreensão do belo e se expressa nas imagens da arte, em oposição à Lógica como ciência do saber cognitivo.

Como disciplina, a estética destina-se ao estudo das regras da arte (a natureza os fundamentos da arte), das leis do belo (as diferentes concepções sobre o conceito de “belo” na idéia de obra de arte e de criação) e do código de Gosto (o julgamento e as emoções estéticas ).

Para Marilena Chauí, ESTÉTICA ou FILOSOFIA DAS ARTES é o "estudo das formas de arte, do trabalho artístico; idéia de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética". (p.410)

- A FILOSOFIA NA HISTÓRIA (CHAUÍ, p.52)


Como todas as outras criações e instituições humanas, a Filosofia está na História e tem uma história.
a) Está na História: a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. A Filosofia procura enfrentar essa novidade, oferecendo caminhos, respostas e, sobretudo, propondo novas perguntas, num diálogo permanente com a sociedade e a cultura de seu tempo, do qual ela faz parte.
b) Tem uma história: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou, freqüentemente, tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja proveitando o passado filosófico, seja criticando-o e refutando-o. Além disso, as transformações nos modos de conhecer podem ampliar os campos de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas filosóficas, como também podem diminuir esses campos, porque alguns de seus conhecimentos podem desligar-se dela e formar disciplinas separadas.

Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; no século XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências ou epistemologia, e a filosofia da linguagem. Por outro lado, o campo da Filosofia diminuiu quando as ciências particulares que dela faziam parte foram-se desligando para constituir suas próprias esferas de investigação. É o que acontece, por exemplo, no século XVIII, quando se desligam da Filosofia a biologia, a física e a química; e, no século XX, as chamadas ciências humanas (psicologia, antropologia, história).

Pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos que acompanham, às vezes de maneira mais próxima, às vezes de maneira mais distante, os períodos em que os historiadores dividem a História da sociedade ocidental.

Referências

CAHUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 7. ed. 2. reimp. São Paulo: Ática, 2000.
DICIONÁRIO HOUAISS da Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br.
ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1988.
JIMENEZ, Marc. O que é estética. Trad. Flávia Moretto. São Leopoldo-RS: EdUnisinos, 1999.
PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes,1989.

NOMES REFERENCIAIS PARA A ESTÉTICA

Max Horkheimer (1895 - 1973)


Filósofo alemão nascido em Stuttgart, Alemanha, principal pensador da teoria crítica na década que precedeu a II Guerra Mundial. Como todos os intelectuais da Escola de Frankfurt, era judeu de origem. Cursou o Gymnasium em Handelslehre (1911-1915) e estudou psicologia e filosofia em München, Freiburg im Breisgau e em Frankfurt/Main (1919-1922). Influenciado por seu amigo Friedrich Pollock, decidiu dedicar-se à filosofia e associou-se (1923), juntamente com Theodor Adorno, à criação do Instituto de Pesquisas Sociais, dedicado à pesquisa interdisciplinar entre filósofos, sociólogos, estetas, economistas e psicólogos - nós conhecemos essa associação pelo nome de Escola de Frankfurt* - da qual Horkheimer foi diretor (1931) sucedendo o historiador austríaco Carl Grünberg. Publicou (1947) os livros Eclipse of Reason e Dialektik der Aufklärung (este último em parceria com Adorno). Publicou ainda Studies in Prejudice (1949) e retornou para a Alemanha, para reassumir a cadeira de filosofia em Frankfurt e reconstruir o Instituto. Foi reitor da universidade local (1951-1953). Septuagenário, voltou a ficar em evidência como um dos inspiradores do movimento estudantil que abalou a França e boa parte do mundo. Publicou também Traditionelle und kritische Theorie (1970). Faleceu em Nuremberg, aos 78 anos.

* A Escola de Frankfurt lançou os fundamentos da teoria crítica - conjunto de idéias sobre a cultura contemporânea, baseadas no marxismo. Esta escola constituiu o núcleo de uma linha original de pensamento filosófico-político desenvolvido por Walter Benjamim, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Jürgen Habermas e Theodor Adorno.

Theodor Wiesengrund Adorno (1906 - 1969)


Filósofo, compositor e crítico musical alemão, nascido em Frankfurt-sobre-o-Meno. É mais conhecido entre nós por suas críticas à mercantilização da arte contemporânea. Filósofo e crítico musical, estudou composição em Viena com Alban Berg, uma das figuras que mais contribuíram para o amadurecimento da música atonal. Foi professor em Frankfurt, onde doutorou-se; ainda em Frankfurt, participou da fundação do Instituto de Pesquisas Sociais. Emigrou para a Inglaterra (1933), para escapar da perseguição aos judeus promovida pelo nacional-socialismo alemão. Em 1937, foi para os Estados Unidos, onde colaborou decisivamente com o Instituto, reconstituído por seus fundadores na Universidade de Columbia. De volta à à Alemanha, em 1949, retomou as atividades docentes e participou intensamente da vida política e cultural do país. Participou também dos movimentos estudantis na Europa, em 1968. Seus escritos filosóficos e musicais apresentavam um conteúdo sociológico; assim, produziu algumas das obras fundamentais do pensamento estético, como a Dialéktik der Aufklärung (com Horkheimer), Philosophie der neuen Musik (1949) e a obra inacabada Ästhetische Theorie (1970).

Alexander Gottlieb Baumgarten (1714 - 1762)

Filósofo alemão nascido em Berlim, criador do vocábulo Aesthetica (=estética). Ensinou nas Universidades de Halle e em Frankfurt e escreveu em latim sua obra mais notável Aesthetica (1750-1758), onde descreveu o conceito da nova palavra. Foi professor de filosofia da Universidade de Franfurt-sobre-o-Oder (1740), permanecendo por 22 anos, até sua morte relativamente prematura. Em seu trabalho Meditações filosóficas sobre algumas questões da obra poética (1735) introduziu o termo estética, no estrito significado dessa palavra hoje. Não foi o fundador da estética como ciência, mas a proposta da utilização do termo funcionou para as demandas da pesquisa desta área do saber. É autor de várias outras obras sobre lógica, ética e teologia, a exemplo de Métaphysique (1739), Aesthetica (1750-1758), Disputationes de nonnulis ad poema pertinentibus (1735), Ethica philosophica (1740). Kant utilizou seus livros como texto de aulas, bem como o termo estética, como denominação para o estudo gnosiológico da sensação e de suas formas apriorísticas de espaço e tempo (denominada como Estética transcendental).

OUTRAS REFERÊNCIAS

Além da bibliografia citada no programa, eventualmente poderemos trabalhar com outros textos. Nesse caso, disponibilizarei esse material aqui, na xerox e/ou no portal. Trata-se de textos digitalizados, que funcionarão como material de apoio. Cuidarei para que todos tenham acesso a eles.

Por outro lado, há vários textos que podem ser citados em sala, mas que não serão trabalhados diretamente, por absoluta falta de tempo. Sempre que possível, colocarei aqui as referências. Aí vão, por exemplo, alguns endereços:

FOUCAULT. Michel As Palavras e as Coisas: uma Arqueologia das Ciências Humanas. 2. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1981.

- De um modo geral, o livro coloca questões acerca de como percebemos as linguagens e como elas representam e ao mesmo tempo constroem visões de mundo. Foucault faz uma leitura das relações entre poder e saber e das visões de mundo (episteme) que perpassaram a história das representações no Ocidente.

- Pensando no modo como o programa da disciplina foi organizado, recomendo a leitura de três capítulos: "Las meninas", que analisa o famoso quadro de Velásquez; "A prosa do mundo", "D. Quixote".

- Para entender melhor a noção de episteme, recomendo o prefácio do livro. Há ainda um artigo bem bacana (de uma pesquisadora chamada Iara Guazzelli), que pode ser acessado no seguinte link:


SANTIAGO, Silviano. A democratização no Brasil: cultura versus arte. In: O cosmopolitismo do pobre: crítica literária e crítica cultural. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004. p.134-156.

- Se der tempo, gostaria de inserir esse texto no programa. Trata-se de uma reflexão sobre o campo das artes e da cultura brasileiras, em que Silviano Santiago vai mapear as opções discursivas ou posicionamentos do intelectual brasileiro, a partir de um recorte: o período entre 1979 e 1981. Para ele, esse é o
momento, no Brasil, da transição do século XX para o seu fim. Isso por conta das mudanças ocorridas nesses campos.

- O autor analisa
o cenário artístico e cultural do Brasil no momento de transição da ditadura para o processo de democratização que se anunciava no País.

- Nesse momento, por exemplo, o autor registra um deslizamento nas formas como se narrava o Brasil, no campo da arte: de uma perspectiva literária e sociológica, deslizou-se para um terreno cultural e antropológico (acho que falei um pouco sobre isso no final da aula, mas não estava particularmente do caso restrito do Brasil).

- O texto está disponível na rede e pode ser acessado no endereço abaixo (atenção pois ele aparece com outro título: "Crítica cultural, crítica literária: desafios do fim de século"), mas é o mesmo artigo.
http://www.pacc.ufrj.br/literaria/critica.html

- Para quem se interessar pelo autor, a página tem ainda outros textos dele e sobre ele. O link: http://www.pacc.ufrj.br/literaria/silvart.html


AUERBACH, Eric.
Mimesis:
a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: EdUSP; Perspectiva, 1971.

- A obra foi escrita no período em que Auerbach esteve exiliado na Turquia, fugindo do nazismo (ele era judeu). Trata-se da leitura de textos clássicos da literatura, e por isso não participará diretamente da nossa bibliografia. É possível, entretanto, entender os modos como a literatura representou a realidade e por que hoje a realidade se narra muito mais por outras formas de arte, notadamente ligadas à comunicação.